1- Uma vez postei não lembro o que no stories do Instagram falando sobre auto estima e um tanto de gente me respondeu com “magina, não pense assim, você é tão bonita” e eu fiquei pensando no tanto que devo ter me expressado de forma pobre porque não estava falando de aparência, mas sim de auto estima como um todo.
Porque minha concepção de auto estima não é sobre se sentir bonita, mas sobre um olhar mais completo de quem somos e como caminhamos pela vida. É uma questão de postura conosco.
E falar em beleza é pouco porque ela muda (muda a moda das belezas e muda a nossa aparência no decorrer dos anos).
O que eu quero dizer é sobre autonomia.
2- Ainda neste ponto, eu nunca fui a menina mais bonita da sala nem do grupo (ninguém foi, convenhamos). Fui aquela típica adolescente sem graça vendo mil defeitos no espelho mas ainda assim, sem grandes problemas.
Quando eu tinha uns 27, 28 anos fiz um acordo comigo de chegar aos 30 me sentindo em paz com minha aparência e este acordo não tinha nada relacionado a fazer tratamentos estéticos invasivos ou cirurgias, mas em me aceitar como eu era como um todo, incluindo abandonar de vez velhos complexos com o corpo.
Deu certo. Aos 30, 31 eu estava tão em paz com o que via no espelho que isso deixou de ser assunto.
Ainda carrego medalhas dessa conquista, mas em 2018 gosto mais de mim por dentro do que por fora. Não que eu ache que meu exterior piorou consideravelmente, mas porque eu ampliei tanto quem sou que não trocaria minha cabeça de hoje pela aparência de 5 anos atrás.
O que eu quero dizer é sobre estar construindo uma relação saudável e sustentável consigo. Que “estar fabulosa” seja mais sobre brilho no olho e satisfação com as ações do que estar bonita / ser mulher enfeite.
3- Semanas atrás um cd me fez sentir emoções há tempos não cutucadas. O negócio foi tão denso que, à cada faixa, a dor no estômago aumentava porque redigerir aquele mal estar velho e-tudo-o-que-era-novo-e-remexia-junto não estava nos planos pré play.
Ironicamente eu não conseguia tirar o cd do repeat.
Conscientemente eu não queria tirar o cd do repeat porque acessar aquela lacuna era sim me chicotear, mas também olhar para a dor e procurar uma cura para ela.
Acho que o ouvi por umas duas ou três semanas. Nesse meio tempo caí, senti um profundo desespero, chorei mais do que poderia ser possível e muitos dias depois, recuperei. A dor virou um luto. Depois, cinzas.
Quando parei o cd, pude voltar pra casa em paz (veja bem, a casa sou eu).
Ainda tinha comigo as cinzas para encarar, mas notei que eu havia conquistado uma elasticidade pouco antes percebida. Reconheci um caminho neutro e consciente para fazer a trilha de volta e ganhei total noção de que não sou negligente com meu bem estar emocional.
Acolher a dor e procurar a cura é fazer cartografia na pele.
Auto estima é sobre estar e se posicionar no mundo. É construir relações sustentáveis distantes das relações utilitárias e que nesses espaços possamos ser quem somos, de forma completa.
Forma completa significa respirar sem esforço e amar sem sufoco.
É uma atitude madura manter-se centro da própria vida, diariamente. Tirando do outro a expectativa ~de que nos complete~, afinal, reconhecemos que já somos, assim o que vem de encontro é encaixe.
E nesses encaixes não vamos aceitar nem oferecer migalhas, pois não devemos permanecer em um espaço onde nos desperdicem como ser humano.
É como li dia desses, “não se negociar por baixo”.
E também não se despedaçar em vão.
É reconhecer que somos também uma compilação de abismos, mas sabendo que cada um oferece possibilidade de auto conhecimento e construção de autonomia de verdade. É o exercício de se equilibrar.
Relacionar a auto estima apenas à nossa aparência é não ampliar a discussão.
Podemos levar nossas belezas para o mundo, mas que ela esteja também nos atos, no olhar, no fazer, no ouvir, no tocar, no abraço, na entrega. A aparência do espelho é pouco perto do que somos enquanto totalidade.
Patricia Cardoso
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obs1. O post tornou-se uma carta para mim mesma. Pra quando eu não estiver legal, lembrar de como sou boa quando estou bem. E que assim deve ser após cada declive. E repete.
obs2. pode deixar comentários =) O blog tá em obras mas ta funcionando 🙂
silviaeleto
Aaaahhh que vou chorar com essa frase: “Acolher a dor e procurar a cura é fazer cartografia na pele.”
Amei o texto! Bjos
Patricia Cardoso
silviaeletotocar a pele é viajar no mundo-eu =)
Patricia Cardoso
Ah Lu, que delicia esse comentário. Eu quero chegar aos 50 com sanidade emocional, sabia? Vejo mulheres tão desgastadas que fico atenta.
Volte sempre aqui =)
Nayamim
Lembro de te responder no instagram, quando você falou desse assunto. A pergunta que não quer calar é: que CD foi esse? Beijos!
Patricia Cardoso
Nayamim“Um corpo no mundo” da Luedji Luna.
Mas talvez não bata pra vc heheeheh
Jozi
Ah que delícia de texto. Eu também entendo autoestima como um todo, ligada à forma como me posiciono. Aliás pra mim é impossível separar autoestima de autoconfiança.
Patricia Cardoso
JoziSim, exatamente Jozi. É um elo, ne?
Mônica Herculano
Maravilhoso!!!
pbrissos
Gosto sempre de te ler. Além de fazeres coisas lindas escreves maravilhosamente. Complexa e simples ao mesmo tempo é uma virtude de poucos. Obrigada por partilhares ❤️ O meu percurso tem sido parecido, este último ano foi um de crescimento interior muito doloroso mas também muito preciso. Autenticidade, generosidade e aceitação são palavras para as quais trabalho todos os dias, primeiro para comigo para depois dar aos outros. Um beijinho e um abraço apertado ❤️
Patricia Cardoso
pbrissosAh Pat, que legal! Então estamos em momentos parecidos.
Vamos juntas, mais fortes e conscientes de quem somos <3
Boa semana =)
Patrícia Fernanda da Silva
Esse post veio pra mim no momento certo!
Recentemente terminal oficialmente uma história de 4 anos (terminei a história agora, mas o relacionamento acabou a dois anos atrás) e ainda descobrindo que nunca foi realmente amada, por isso estava pensando que nos próximos relacionamentos eu seria mais fria e não me dedicaria tanto ao outro, só que lendo esse texto eu percebi que ao fazer isso eu tiraria de mim aquilo que mais gosto em mim mesma que é minha capacidade de amar e me dedicar as pessoas que amo, eu tiraria aquilo que tenho de mais bonito em mim!
Independente do que tenha passado, eu vou continuar sendo a mesma de sempre e vou buscar ser a melhor versão de mim todos os dias, não pelo outro, mas por mim mesma.
Obrigada. <3
Patricia Cardoso
Patrícia Fernanda da SilvaAhh Pat, que coisa!
Pois é, passamos por essas às vezes, ne? Mas não se anule, de verdade. Vc não merece viver a metade, a migalha.
Tô torcendo pra encontrar alguém nessa sintonia abundante tbm. E, caso não apareça, que vc se mantenha sozinha, se amando diariamente em todos os sentidos <3
Michelly Paula
Eu adorei! <3 Posta mais sobre isso , viu?
E para ter uma boa auto estima é preciso fazer um exercício diário, fazer uma conexão de si com o externo mas que vc sempre se posicione a favor de si, às vezes precisamos nos colocarmos em primeira pessoa mesmo, não de forma egoísta como o mundo pensa mas entender que se a gente viver bem na nossa própria pele parece que tudo ao redor funciona, pq vc bem consigo irradia, reflete, externaliza.Aguardo nosso chá com biscoitos bem vovó para tricotarmos sobre isso 😛 ^^ Lelynha
Patricia Cardoso
Michelly PaulaAh quero muito esse chá. Ou de repente um drink, risos.
Sim, quando a gente entende que temos que nos posicionar na vida e que só isso vai fazer todo o resto ampliar e andar bem, tudo muda.
Tô tão com esse pensamento agora, espero me manter nele <3