Meu pequeno armário sofre um problema matemático: tenho muito mais partes debaixo do que partes de cima. Para piorar, quando fiz minha mala para vir à NZ priorizei roupas de frio, assim sendo, mal tenho blusas de manga curta/calor.
Dentre as andanças pela loja de tecido, vi e apaixonei nessa estampa miúda no tom neutro de azul. Trouxe pra casa aproveitando a promoção #fabriholics_anonymous e a idéia era mesmo fazer uma blusa para usar nos tão desejados dias quentes neozelandeses.
Fiz um esse “rascunho lindíssimo” baseada nos meus estudos de modelagem: o que eu não havia feito ainda? Não postei todas as peças aqui, mas neste ano fiz algumas blusas para re-estudar bases e estudar novos riscos de modelagem. Umas viraram presentes (aqui e aqui), outras estão comigo e algumas foram vendidas num brechó: estavam ótimas e bem feitas, mas não tinham a ver comigo, eram apenas estudos.
Outra coisa que queria: fazer novas mangas. A maior parte das blusas que fiz eram regatas.
ENFIM, daí que seguindo este desenho maravilhoso, no primeiro dia comecei a modelagem plana partindo da base e fazendo todas as adaptações. Como de costume cortei o piloto, costurei, provei e mais uma vez o espelho sugeriu algumas mudanças: a blusa estava larga demais, muito mais do que eu havia planejado.
Voltei ao molde para fazer as correções e aí morou o problema: reduzi mais do que eu deveria e, ao invés de cortar outro piloto para provar e conferir se estava tudo correto, resolvi cortar o molde na seda para começar a costurar a peça.
– dia 02:
Desde que comecei a trabalhar na alfaiataria (aqui), passei a ficar completamente encantada com os forros e os encaixes. Eles sempre me chamaram atenção, mas poder mexer neles todos os dias, em modelos diferentes e vendo tantas possibilidades, procurei dar à essa blusa o melhor acabamento ever já feito: resolvi forrar as mangas e a parte superior.
Eu, espertona, confiando nos ajustes feitos no molde, cortei e costurei quase toda a blusa da melhor maneira possível, com todo o cuidado para que ficasse tão bonita por dentro quanto por fora. Estava super feliz com o trabalho =)
Quando a blusa estava pronta, surgiu a primeira surpresa: a manga estava justa demais na cabeça do ombro. Em frente ao espelho, senti uma raivinha por um segundo (por não ter feito a segunda prova antes de cortar o tecido) mas o sentimento passou rapidamente e fui lá desmanchando todo o forro, depois a blusa e voltando para o molde da manga novamente. Para corrigir, abri o molde, dando folga no corpo da manga.
Como na primeira modelagem eu havia feito as mangas forradas, elas haviam sido cortadas 4x. Já com a segunda manga, não tinha mais tecido para forrá-la, então cortei 2x as mangas e preparei viés do próprio tecido para dar o acabamento. Recosturei a blusa, finalizei o viés à mão, parei para jantar e quando voltei, resolvi provar pois queria terminar a blusa para usar no dia seguinte. Daí a segunda surpresa: a manga estava larga demais!
Me respondam: porque diabos eu não provei ANTES de colocar o viés?? Que tapada!
Fui dormir, porque né (?) tem horas que é melhor descansar.
– dia 3:
Desmanchei toda a blusa mais uma vez, voltei pra modelagem da manga e reduzi as aberturas feitas anteriormente. Dessa vez cheguei ao desenho de uma boa manga, proporcional ao que eu queria – nem muito volume, nem magrinha / justa -. A essa altura do campeonato, as sobras do tecido iam se consumindo em mangas e só me sobravam pequenos retalhos.
Quando estava perto de finalizar a blusa, resolvi vestir pra “conferir” se estava ok e quase tive um treco: estava tão justa nas costas que eu mal conseguia me mexer. Fiquei desesperada!
Antes que vc me pergunte: mas pq vc não viu o defeito nas costas antes de fechar a peça?? Porque a manga, anteriormente larga, deu a folga que faltava nas costas – eu só não havia percebido que estava proporcionalmente meio esquisita (porque fica!) e continuei a costurar. Nessa hora bateu o desespero e juro, eu ri.
Modelagem é um jogo de nuances tão sutis que qualquer, absolutamente QUALQUER coisinha muda todo um projeto.
Coloquei esta foto no Instagram e cheguei a pensar em finalizar a blusa e vendê-la num brechó (minha única opção, já que não conheço quase ninguém aqui para dar de presente). Então organizei a mesa, limpei o chão, desliguei a máquina e fui dormir.
– dia 4:
Na noite anterior estava sem idéias do que poderia fazer para “salvar” a danada da blusa. O tecido havia acabado e eu não iria comprar outro metro porque ele não foi barato (e como disse, o comprei numa promoção de 30%, que durou UM dia, ou seja, teria que pagar o preço cheio – no way -) mas, quando acordei pensei: Vou desmanchar a pence das costas e emendar uma faixa no recorte superior. Não vai ficar belo mas também evita de perder a blusa, oras!
Joguei essa idéia no Snapchat e Beatriz, uma querida que sempre tricota comigo me questionou: Porque vc não corta novamente esta parte detrás? Eu, sabendo que não tinha mais tecido, expliquei pra ela, que insistiu para eu checar todos os retalhos. Parei tudo e fui vasculhar minha mesa de trabalho, conferindo cada teco do tecido azul.
SURPRESA! Havia um único pedaço suficiente para cortar uma nova parte detrás, com o fio certinho. O forro teria uma emenda, mas ok, estará do lado de dentro. Ufa <3
Então desmanchei tooooda a blusa novamente (já perdi a conta de quantas vezes desmanchei), passei todas as partes e cortei o novo recorte superior.
Uma coisa legal de usar um tecido de qualidade é que, mesmo costurando e desmanchando tantas vezes, ele se manteve inteiro, com as fibras do mesmo jeitinho, sem desgastar ou fazer furos/buracos. Também não esticou / laceou nada. O novo corte das costas deu certo e finalizei a blusa. Na última prova, tudo estava ok.
– dia 5:
No quinto dia finalizei a gola, a manga e fiz a barra. Parte da blusa foi fechada com costura francesa (4), forro na parte superior (2) finalizado à mão e viés nos acabamentos das mangas (3). No número 01, se você clicar na foto verá a emenda que tive que fazer para salvar a blusa. Não há costuras aparentes, além da barra pois muita coisa foi feita com pontos invisíveis.
Conclusão: Tem coisas que, mesmo tendo feito uma dezena de vezes, de repente algo tão simples vira um Tiranossauro Rex com todos os defeitos possíveis. O lado bom dos erros é que ele nos ensina à fazer, refazer e consertar. Não há como sair imune / sem entender o processo depois de passar por uma seqüencia como essa, ou seja, é bom errar pois aprendemos em dobro. Já sou uma especialista em pequenos erros, opppssss, já sei as proporções legais para blusas e mangas em modelagem plana, o que é bastante positivo.
Quando gravei este vídeo, comentei exatamente isso porque sempre ouço muita gente falando que não tem jeito para costura, que é difícil, que não tem talento e etc. Mas é a rotina de costurar que nos dá bagagem. É essa parte (o erro, o consertar) que nos dá conhecimento.
Eu erro até hoje e não tenho problemas em falar/assumir isso. Logo no início do Snapchat umas pessoas me falaram: – Uia, mas vc ainda erra? ou “porque você não esconde as partes erradas?“. Exatamente porque acredito que faz parte do desenvolvimento. Qual cozinheiro não queima a comida?
blusa no novo velho manequim que enfeita meu pequeno ateliê
No fim, depois de gastar tantas horas na blusa me deu até vontade de fazer outra, mas os projetos precisam seguir e vou fazer as coisas que havia planejado antes. Quando aparecer outro tecido gracioso pensarei num modelo e volto à resolver a equação matemática do meu armário negativo rs.
Depois atualizo o post com uma foto da blusa no corpo, ok? No manequim ficou médio, né?
E Beatriz, obrigada de verdade, você ajudou a salvar a blusa.
Com açúcar e afeto,
Pat
Ana Paula
Oi. . Te achei ontem na net rsrr estou amando seus vídeos! ! Eu ganhei a maquina este mês e não sei nada de costura kkkk aprendi a colocar a linha através de vídeo quebrei 3 agulhas kkk.. Você tem algo para tipo eu bem iniciante kkk..bjs sucesso linda!!
Patricia
Ana PaulaOi Ana, seja bem vinda 🙂
No canal há uma playlist para iniciantes mas ó, dá uma olhada no manual porque não é normal quebrar a agulha ao trocar a linha, ta?
Dá uma lidinha no manual, juro. Boas costuras, Pat
Valéria Silva Reichert Marrama
Seu primeiro vídeo , ajudou-me a escolher mha outra máquina de costura
Patricia
Valéria Silva Reichert MarramaQue legal, Valéria. Está aproveitando a maquina? Qual escolheu?
Valéria Silva Reichert Marrama
Seu primeiro vídeo , ajudou-me a escolher mha outra máquina de costura
Shirlene
Nossa patty,paciencia é a palavra chave de uma costureira.
Patricia
Shirlenesuper é, Shirlene. Depois leia este: http://patricia-cardoso.com/indispensaveis/
beijo!
maria
Oi Patricia
Quase me dá um treco só de ler, fico imaginando quantas vezes vou ter que abrir um projeto (quando tome coragem de meter a tesoura no tecido é claro).
Siga postando Patricia, por que como diz a música de Luiz Gnzaga , ISSO AQUI TÁ BOM DEMAIS.
Um abraçao
Maria
Patricia
mariahahaahah Maria, adoro seus comentários. Olha, acho que a coisa mais importante na costura é a paciência, sabia? Antes eu não tinha tanta, hoje respiro fundo e sigo em frente… Mas ó, essa blusa me deu samba, viu! ralei hahaaha
Beatriz
Foi bom “costurar” junto com vc e ver, agora, o resultado lindo que ficou!
Bjs
Patricia
BeatrizTbm gostei.Ainda ta um tico justa, mas não impossibilitando de usar, sabe? Eu desconfio até que no primeiro ajuste, na peça piloto, não deveria ter tirado nada.. mas enfim, já foi rs. Bj